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Dados biográficos

Foto de Valdemar Sguissardi
Licenciado em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (hoje, Unijuí – 1966), mestrado em Sciences de l’Éducation – Université de Paris X, Nanterre (1972) e doutorado em Sciences de l’Éducation – Université de Paris X, Nanterre (1976). Professor Titular aposentado da Universidade Federal de São Carlos (1992) e professor aposentado da Universidade Metodista de Piracicaba (2010). Concentra seus estudos e pesquisas na área de Educação, especialmente no tema das Políticas de Educação Superior.

Foto de Valdemar SguissardiLicenciado em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (hoje, Unijuí – 1966), mestrado em Science de l’Éducation – Université de Paris X, Nanterre (1972) e doutorado em Sciences de l’Éducation – Université de Paris X, Nanterre (1976). Professor Titular aposentado da Universidade Federal de São Carlos (1992) e professor aposentado da Universidade Metodista de Piracicaba (2010). Concentra seus estudos e pesquisas na área de Educação, especialmente no tema das Políticas de Educação Superior.

Trajetória

Texto publicado originalmente em O Legado Franciscano

Nasci em Sananduva, na localidade de Linha Brasil, Capela São Geraldo, aos 21 de setembro de 1943. Sou filho de Pedro Sguissardi e de Madalena do Carmo. Ingressei no Seminário Seráfico Santo Antônio, de Vila Flores, em 1953, com 9 anos de idade. Saí do Convento São Geraldo de Ijuí, em 1965, tendo concluído o curso de Filosofia, em 1966. Prossegui meus estudos cursando uma Pós-Graduação lato sensu na USP em Metodologia do Ensino Médio, o Mestrado e o doutorado em Ciências da Educação, na Universidade de Paris X (Nanterre, França). Fui professor do Ensino Básico e do Ensino Superior. Fui casado com Maria de Fátima Martins e Sousa e, hoje, com Sanete Irani de Andrade. Tenho dois filhos: Carlos Alberto Sousa Sguissardi e Luís Gustavo Sousa Sguissardi.

A opção pelo laicato

Minha reinserção no mundo laico deu-se, inicialmente, com meu primeiro emprego, ainda nas férias de 1966, quando, a convite de um casal de advogados, assumi aulas de Latim, Filosofia e Lógica, no cursinho pré-vestibular que preparava candidatos para o 1o Exame de Seleção da recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), de Paranavaí, Paraná.

No mês de março de 1966 assumi a responsabilidade pela disciplina de Português para quatro turmas de 1ª série do curso ginasial no Colégio Estadual de Paranavaí. Assumi também a disciplina de Português para a 1ª série ginasial do Seminário dos Franciscanos de Graciosa dos Catarinenses, distrito de Parana­vaí.

Iria lecionar a matéria de que mais gostava e em relação à qual me sentia melhor preparado. Das quatro turmas de Português do Colégio Estadual escolhi uma para dela fazer objeto de meu estágio supervisionado de Prática de Ensino. Montei um plano de estágio que constava da elaboração de um estudo te­órico sobre “Minha filosofia de educação”, um estudo socioeconômico da classe onde estagiaria, um plano de ensino de um ano, com planejamento específico de unidades, subunidades e aulas, plano de avaliação e análise crítica dos resultados. Para a realização do estudo socioeconômico da classe, visi­tei cada uma das famílias dos alunos, entrevistando seus pais ou responsáveis. Ao final, montei um alentado Relatório Final que levei para ser aprovado em Ijuí pela professora de Prática de Ensino, Eronita Barcellos.

Passei um ano muito tranquilo do ponto de vista pessoal e profissional. Fui aos poucos me inserindo no mundo do trabalho, das trocas comerciais, dos salários, dos alu­guéis, dos empréstimos em banco, etc., embora minha profissão me mantivesse um tanto distante da rotina coti­diana dessas atividades típicas das relações capitalistas. De fato, na qualidade de professor suplemantarista, recebi meu primeiro salário apenas cerca de seis meses após ter ini­ciado o trabalho.

Ao final do ano persistia minha dúvida quanto a retornar à ordem religiosa. Na dúvida, fiz minhas malas e me dirigi a meu superior em Porto Alegre, frei Jaime. Em tranquila conversa com ele definimos que eu permaneceria por mais um ano afastado do convento.

Isso decidido, diante da experiência exitosa no ensino de Português e pensando garantir um emprego mais es­tável, fiz o que à época se chamava de Curso e Exame de Suficiência na disciplina de Português para o 1o Ciclo do Curso de Grau Médio, de acordo com o artigo 117 da LDB/61. Fiz o Curso Preparatório, organizado pela Diretoria do Ensino Secundário do MEC através da Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário (CADES), em Bento Gon­çalves-RS, em janeiro de 1967, ao final do qual recebi o Certificado de Habilitação for­necido pela FFCL da UFRGS. Este Certificado garantiu-me o Registro de Professor no S-008-Pr da disciplina de Portu­guês.

Retornando a Paranavaí, tencionava continuar le­cionando Português e ao mesmo tempo ingressar, via exame vestibular, no curso de Letras da FFCL de Paranavaí. As dis­ciplinas para as quais estava habilitado pelo Curso Superior de Filosofia – Filosofia e Sociologia (2o grau) e História (1o e 2o graus) – não me davam a segurança de trabalho que eu buscava, caso não retornasse para o convento.

Ao apresentar a documentação na Secretaria da FFCL de Paranavaí no ato de inscrição para o exame vestibular, tendo o secretário visto que eu já tinha curso superior, levou-me ao diretor que, vendo que eu poderia ser professor de várias disciplinas da Faculdade, propôs-me: “Ao invés de aluno, não quer ser nosso professor?” Saí de sua sala contratado para a ca­deira de Teoria e Prática do En­sino Médio para os cursos de Ciências e Pedagogia. Assumi também a disciplina de Filosofia para o 3o ano do Curso Colegial (modalidade Clássico). Continuei a ministrar aulas de Português no Semi­nário dos Franciscanos da Graciosa dos Catarinenses.

Durante esse ano de 1967, sem maio­res dificuldades, tomei a decisão de não mais retornar ao convento dos capuchinhos e assim deixar a vida religiosa. O “atalho” do seminário para livrar-me do trabalho duro da vida da roça e a aquisição de um saber que me habilitasse a exercer uma pro­fissão que me realizasse pessoal e profissionalmente es­tava chegando ao seu fim. Por mais que tivesse me convencido da importância da vida religiosa e do que nela é possível fazer no sentido da solidariedade humana, da luta pela libertação dos homens, material e espiritualmente, eu acabara convencido de que a dedicação a uma vida religiosa de restrições e renúncias não era, para mim – como não fora quando no seminário –, uma consistente exigência vital. O que vislumbrava como mais importante na ação dos reli­giosos, o seu aspecto de intervenção político-social, eu acreditava poder realizar como leigo numa profissão como a do magistério.

Outro fator que embasou meu não retorno à vida religiosa foi a superação de minha culpabilização doentia e do moralismo maniqueísta que, à falta de outras razões mais sólidas (vocação?), me manteriam na Ordem religiosa por medo das consequências de seu abandono. Para mim o pecado deixara de existir com os traços que o definiam nos tempos do seminário. Agora pecado era o pecado social, o que atenta contra as pessoas e seus direitos. Para mim o pecado secularizava-se. Afastei-me de qualquer prática religiosa exterior e tratei de buscar o sentido da vida no trabalho solidário que buscasse con­tribuir com a libertação dos homens de todas as suas alie­nações e com a construção de um mundo melhor e mais humano.

Planejando e construindo uma profissão: a docência e a investigação

Decidido a ser professor universitário em tempo integral e disso fazer minha profissão, e, ainda, tendo optado pela área de Educação e não Filosofia ou Sociologia, pensei em, quanto antes, fazer uma pós-graduação em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Dirigi-me, em meados de 1967, a estas duas cidades. No Rio, já havia sido criado o Mestrado em Educação, mas não era exatamente na área que eu procurava. Descobri o curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino Médio da FFCL da USP, na Rua Maria Antônia, São Paulo (SP), que deveria ao final desse ano recrutar sua segunda turma.

Inscrevi-me e, em 1968, afastei-me sem vencimentos da Faculdade, indo morar em São Paulo para frequência integral a esse curso. Sem bolsa de estudos, com reservas do ano anterior e com a ajuda de um parente que me cedeu um sofá e um banheiro no escritório de sua empresa em São Paulo, enfrentei um ano de alguma penúria, mas de grande significado para minha vida futura.

O curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino Médio compôs-se de três disciplinas básicas (Fundamentos Psicogenéticos da Didática, Problemas Brasileiros de Educação e Didática Renovada) e de uma Monografia Final. A direção teó­rico-metodológica do curso era a psicogenética piagetiana. Esta diretriz embasou tanto a disciplina de Fundamen­tos quanto a de Educação Renovada. Na disciplina de Educação Renovada tiveram lugar central as análises da chamada Escola Nova.

Exceto na disciplina de Problemas Brasileiros de Educação, a educação e a metodologia didática eram vistas como bastante autônomas em relação ao contexto político e sócio-econômico. Nem o clima de extrema tensão vivido na luta que se travava nas ruas próximas (Maria Antô­nia), no CRUSP (residência estudantil) e nos porões da re­pressão pareciam despertar para as estreitas relações entre o sucesso da sala de aula e o desemprego, a subnutrição, as relações de trabalho alienantes, a falta de esperança num futuro melhor, a carên­cia dos mínimos direitos de cidadania.

Apesar da razoável profundidade teórica desse curso, não foi ele que teve maior signifi­cado para meu amadurecimento teórico-político naqueles dias sombrios de 1968. Para quem vinha de uma experiência de vida em seminário muito tranquila, que havia passado por uma mi­litância harmônica no Movimento Comunitário de Base de Ijuí e por uma retomada da vida civil sem maiores percalços, viver e participar de muitos dos eventos em que se defrontaram as forças da repressão e o movimento estudantil foi um verda­deiro e decisivo batismo de fogo para a minha vida e militâncias fu­turas.

Participei de muitos episódios da luta contra a ditadura, em especial das passeatas, que ajudava a organizar, contra os Acordos MEC-USAID que visavam à reforma da educação superior.

Participei das Comissões Paritárias que trabalharam na construção de uma proposta de reforma universitária da USP. Deixei de participar, como representante suplente da Pedagogia da USP, do Congresso da UNE em Ibiúna, ao saber por amigos dominicanos que ali haveria repressão policial. Frequentei, à margem do curso, muitos encontros de estudos sobre a realidade político-econômica brasileira, com eminentes professores, como Florestan Fernandes. Além disso, tomei contato com as experiências pedagógicas inovadoras do Serviço de Ensino Vo­cacional.

Em 1969 retornei ao meu posto de trabalho em Para­navaí, embora continuasse tendo de frequentar semanalmente, às quintas-feiras, seminários do 2o ano de pós-graduação em São Paulo. Assumia na Faculdade a disciplina de Didática Geral para todos os cinco cursos oferecidos: Le­tras, Geografia, História, Ciências e Pedagogia. No Colégio Estadual reassumi a disciplina de Filosofia.

Nesse ano, recebi um convite para me transferir para a Universidade de Brasília, que precisava repor as vagas de professores – mais de 200 – que haviam pedido demissão como protesto contra a repressão política naquela universidade. De­clinei do convite, pois vislumbrava a possibilidade de ser aproveitado, mediante seleção, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), em fase de implantação. Mais: estava firmemente decidido a solicitar à Capes bolsa de estudos para dar continuidade a meus estudos pós-graduados na França a partir de setembro de 1970.

Mediante concurso, em janeiro de 1970, fui um dos primeiros professores contratados pela nova universidade (UEM), em que assumi a disciplina de Didática para vários cursos e a chefia do novo Departamento de Educação. Solicitei em seguida bolsa da Capes para fazer Pós-Graduação stricto sensu na França, embora tivesse obtido cartas de aceitação também na Bélgica e na Suíça, neste caso com assistente de Jean Piaget.

Em setembro de 1970 viajei para Paris para, inicialmente sob orientação do Professor Paul Arbousse-Bastide (ex-membro da Missão Francesa na USP) e, posteriormente, do Prof. Jean-Claude Filloux, fazer o Mestrado e o Doutorado em Ciências da Educação, na Universidade de Paris X (Nanterre). Defendi minha tese de Doutorado em janeiro de 1976.

Ao lado da Pós-Graduação acadêmica, estudar numa cidade como Paris numa época de ditaduras no Brasil e em outros países latino-americanos, com exilados às centenas na cidade, e os contatos com estudantes de todo o mundo – 5.600 estudantes de mais de cem países e de centenas de especialidades – conformaram o que se tem chamado de o “outro” Doutorado.

Ajudando a construir uma universidade

Em fevereiro de 1976 reassumi, em tempo integral e dedicação exclusiva, meu posto de professor e pesquisador na UEM, que necessitava ser quase totalmente “construída”.

Sendo dos primeiros doutores da instituição, logo fui convocado para organizar o setor de Pós-Graduação e Pesquisa da universidade. Assumi a tarefa de organizar e coordenar a Divisão, depois Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, mais tarde transformada em Pró-Reitoria. Coordenei cerca de 15 cursos de especialização em diferentes áreas de conhecimento.

Procurando conjugar a docência, a pesquisa e a militância política, coordenei a criação da Associação de Docentes da UEM no final de 1978 e início de 1979, o que me pôs em confronto com a Reitoria e me facilitou o aceite do convite que a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de São Carlos (SP) me havia feito, um ano antes, para fazer parte de seu corpo docente. Eu iria ocupar vaga deixada por professores da PUC-SP e Fundação Carlos Chagas (SP) que haviam deixado o programa, entre eles seu fundador e primeiro coordenador, o professor Dermeval Saviani.

A organização de efetiva carreira universitária: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Em agosto de 1979 iniciei meu trabalho no PPGE/UFSCar, indo de Maringá a São Carlos para lecionar uma disciplina quinzenal do Mestrado. Em janeiro de 1980 fui contratado em tempo integral e dedicação exclusiva pela UFSCar para trabalhar no seu programa de Pós-Graduação em Educação, cuja coordenação assumi de 1981 a 1983. Durante meu mandato o programa, criado em 1976, foi credenciado pelo Conselho Federal de Educação.

A UFSCar foi para mim, nos 13 anos em que nela trabalhei, a minha verdadeira “escola” de formação para a carreira universitária, isto é, foi nela que, além da docência universitária, da política institucional e da militância associativa, dei início efetivo a minha carreira como pesquisador. Isto foi possível dadas as condições de trabalho na Pós-Graduação em uma instituição que fazia da dedicação exclusiva, da alta qualificação em nível pós-graduado e da produção científica seus traços mais destacados.

Na UFSCar vinculei-me sempre a projetos de pesquisa que, em geral, coordenei e que deram origem a vários livros, capítulos de livros e artigos em revistas científicas. Minhas áreas de atuação, como pesquisador, foram: primeiro, a da educação popular, trabalhando em bairro da periferia de São Carlos por quatro anos; segundo, a do estudo do ensino noturno e os trabalhadores, por cerca de cinco anos (PUCCI, Bruno; RAMOS-DE-OLIVEIRA, Newton; SGUISSARDI, Valdemar. O ensino noturno e os trabalhadores. São Carlos: EdUFSCar, 1994), e, terceiro, as políticas de educação superior, com estudos sobre a crise de poderes entre Conselho de Curadores X Conselho Universitário na UFSCar e sobre a própria história da universidade e da adoção do modelo fundacional na universidade brasileira (SGUISSARDI, Valdemar. Universidade, Fundação e Autoritarismo – O caso da UFSCar. São Paulo: Estação Liberdade; São Carlos: EdUFSCar, 1993)

Em razão de minha militância – vice-presidente e presidente da Associação de Docentes da UFSCar (ADUFSCar) – e representação dos Professores Adjuntos no Conselho Universitário, participei, como um dos líderes, do processo de democratização da UFSCar ao final da ditadura cívico-militar, nos anos 80, tendo inclusive sido candidato a reitor.

Além da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação, fui um dos fundadores e chefe, por cinco anos, do Departamento de Educação do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFSCar.

Em termos de militância política vale assinalar que, em 1980, ajudei a fundar em São Carlos o núcleo do Partido dos Trabalhadores (PT), tendo sido membro de seu diretório por cerca de 10 anos. Minha militância nesse partido estendeu-se até recentemente, em meio à qual, entre outros engajamentos, participei das equipes responsáveis pela elaboração dos programas de educação – educação superior especialmente – das candidaturas do PT à Presidência da República. Destaque-se a coordenação, junto com o Professor Hélgio Trindade (ex-reitor da UFRGS), do programa para a educação superior no interior do Plano de Governo da Aliança Lula-Presidente – 2002.

A continuidade da carreira universitária: Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)

Em 1992 aposentei-me do serviço público e, mediante concurso, vinculei-me ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), que acabara de criar seu curso de Doutorado. Passado um ano na UNIMEP, assumi sua coordenação, tendo por principal tarefa garantir o credenciamento do Doutorado, o que foi conseguido no prazo de pouco mais de um ano (1994).

Na UNIMEP, além da docência na Pós-Graduação, lecionei disciplinas pedagógicas em diversos cursos de Licenciatura e, sobretudo, dediquei-me à pesquisa, principalmente em parceria com o colega João dos Reis Silva Jr (hoje, professor da UFSCar) e à produção de livros, capítulos de livros e artigos científicos sobre a temática das políticas de educação superior. Entre os livros, citarei dois: 1) SILVA JR., João dos R.; SGUISSARDI, Valdemar. Novas faces da educação superior. S. Paulo: Cortez; Bragança Paulista (SP): EdUSFCAR, 1999; 2) SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JR, João dos R. Trabalho intensificado nas Federais – Pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo: Xamã, 2009.

Ao longo dos últimos 20 a 30 anos, a atividade de investigação levou-me a participar de grupos de pesquisa de âmbito nacional, como o Grupo Universitas/BR, que reúne mais de cem pesquisadores da educação superior, e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPED) e de um de seus grupos de trabalho, o GT 11 Política de Educação Superior, que coordenei por dois anos.

No campo da militância no interior da UNIMEP participei sempre de conselhos de representantes departamentais na Associação de Docentes (ADUNIMEP) e atuei ao lado da coordenação do movimento que lutou contra o reitor/interventor Davi Barros, na UNIMEP, de dezembro de 2006 a 2008, e em defesa da autonomia universitária dessa universidade, movimento que conseguiu a readmissão de 148 colegas docentes que, sem justa causa e truculentamente (comunicados via e-mail), haviam sido demitidos em dezembro de 2006. Esse reitor/interventor pediu demissão do cargo antes de cumprir dois anos de mandato.

Em 2010, ao completar 67 anos e 44 anos de magistério, 43 na educação superior, aposentei-me. Continuo trabalhando em pesquisa, escrevendo sobre políticas de educação superior e sentindo-me, finalmente, um trabalhador “livre”.

Relação de minha carreira com a experiência do seminário

A resposta à questão implícita nesse subtítulo já foi, de alguma forma, respondida nas páginas iniciais deste texto, entretanto não poderia deixar de enfatizar algumas coisas óbvias e outras nem tanto.

Se não fosse o seminário, com muita certeza eu não teria feito nem ginásio, nem colegial e muito menos faculdade/universidade. Mais que isto, sem a união estudo e trabalho, sem a seriedade e a disciplina nos estudos, vividas por 13 anos no seminário, eu possivelmente não tivesse ido além da Graduação e de alguma Especialização. Minha ida para Paris, para fazer o Mestrado e o Doutorado, sem ter nenhum conhecido nessa cidade, não teria ocorrido sem a experiência de viver longe da família e com tanta gente nova e diversa quanto o seminário nos propiciou.

Quando rememoro minha atividade científica e as temáticas e questões que sempre procurei problematizar e compreender, assim como quando examino minha trajetória política, seja institucional, seja associativo/sindical, seja partidária, não posso deixar de pensar que passei por seminários e conventos de frades capuchinhos. Trajetória de trabalho e estudo, em que a ciência como forma de aliviar a canseira da existência humana, como dizia Brecht que esta o era para Galileu, a preocupação com os pobres e injustiçados, numa palavra, a solidariedade humana, sempre foram muito pregadas e bastante praticadas. Nisto, no meu caso, o Movimento Comunitário de Ijuí ocupou um lugar de grande destaque.

Em resumo: não seria quem sou – como ex-docente e ainda estudioso da problemática universitária, numa sociedade extremamente desigual, em que a educação superior, de elite ou de baixa qualidade, não faz justiça à maioria da população excluída do usufruto de muitos direitos – sem as bases de minha carreira de docente universitário edificadas na experiência seminarística de Vila Flores a Ijuí.

O futuro – o que esperar?

A experiência do seminário, em especial a dos últimos anos, quando me engajei nas atividades do Movimento Comunitário de Base de Ijuí; meus estudos posteriores, seja na USP, seja na Universidade de Paris; minha atuação docente e participação em grupos de estudos e pesquisas que priorizam a crítica das políticas públicas de educação; e minha contínua militância de “esquerda”, tanto na política institucional universitária, quanto no “movimento docente” e no partido político, fizeram-me um observador crítico de nosso mundo e de moderada esperança em sua transformação positiva.

Como estudioso do marxismo, assim como de outras teorias explicativas da realidade, acredito, sem dogmatismos, ter uma razoável compreensão da estrutura e funcionamento da sociedade capitalista mundial, hoje claramente dominante, e que tem no Brasil um exemplo bastante acabado do que prevalece em termos planetários. As desigualdades sociais produzidas por esse modo de produção hoje hegemônico fazem de nosso país, dada sua história particular de colonização, escravidão e baldados esforços de construção de efetiva república, um dos mais desiguais dentre os mais de 200 países do mundo.

Sempre alimentei a esperança de que um dia esse país se tornaria uma nação rica, democrática, com alto grau de igualdade e justiça sociais. Foi essa esperança que alimentou e deu sentido a minha vida e a tantas lutas em que me envolvi durante os últimos 50 anos.

Aposentado de atividades docentes, mas trabalhador “livre” da investigação e da produção de estudos que contribuam para um futuro melhor para nossa população, creio que, se conseguirmos manter a democracia, ainda que liberal-burguesa e ainda frágil, por um longo período, este país poderá tornar-se uma nação da qual possamos nos orgulhar. Os avanços ocorridos nos últimos 20 anos pós-ditadura, em especial nos mais próximos, e as manifestações massivas recentes são uma garantia razoável de que poderemos ter um futuro muito melhor do que nosso presente como país e como nação.

Dossiê

Dossiê Valdemar Sguissardi

Comunicações

Revista do PPGE da UNIMEP

Entrevista
Valdemar Sguissardi: origens, formação, escolhas, militânciaS e experiências – uma entrevista

Valdemar Sguissardi, em entrevista a seus ex-colegas de PPGE/UNIMEP, no primeiro semestre de 2011, logo após sua aposentadoria na Instituição, nos traz informações, lembranças, notícias e revelações surpreendentes, sobre momentos decisivos de sua vida, desde a infância na zona rural de Sananduva, RS, a formação juvenil no Seminário dos Capuchinhos e a graduação em filosofia na UNIJUÍ, até o estágio de mestrado e doutorado em Paris, a intensa e extensa atuação acadêmica: na UEM, na UFSCar e na UNIMEP. No depoimento de Sguissardi evidenciam-se detalhes históricos e pessoais sobre sua produção científica e atuação acadêmica, sobre a militância estudantil, sindical e política; e, sobretudo, se torna inesquecível sua presença – sábia, dedicada e festiva – entre nós.